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Já vi em alguns filmes, cenas de pessoas vendo o filme de sua vida passar na hora de sua morte. Não sei se é assim para quem vai, mas, com certeza, é assim para quem fica. Hoje fiquei vendo o filme da vida passar. Hoje fico apenas com as boas lembranças, lembranças de uma infância com cheiro da casa do vô.
Mas o que vale mesmo é saber que valeu a pena, que se viveu plenamente e intensamente tudo que a vida lhe ofereceu, e generosamente, dividiu com aqueles que amava.
Acho que é preciso, ao completar o ciclo, fechá-lo. Velar o ente querido, acomodá-lo confortavelmente no colo do Pai. Sei que é apenas um ritual, assim como o batismo que celebra a vida, o velório e o enterro, são o ritual da despedida, mas que bom saber que na hora da tua morte estão lá pessoas que fizeram parte da tua vida.
Ele era um cara divertido, e não é porque ele morreu, porque depois que todo mundo morre vira bom ou santo, não, é porque ele era mesmo.
"E ao longo do velório seu bisneto preferido contava piadas, e eu pensei: o vô deve estar dando boas risadas." Claro que é triste a perda, mas quando a vida foi tão bem vivida, mais conforto se tem ao saber que ele está descansando com a sensação de dever cumprido: uma mulher, duas filhas, dois genros, sete netos, sete bisnetos e bons amigos.
Linda é a vida que nos dá de presente pessoas queridas, que ajudam a construir teu caráter, teus valores, que te mostra as coisas boas da vida, como um bom peixinho, "catar" marisco, e comer com "fuinha", como eu sua neta, falava farinha.
Que venha o luto, e que nos ajude a organizar tudo isso.