A romantização da maternidade solo

Tenho acompanhado algumas pessoas nas redes sociais falando da maternidade solo. O discurso é de que isso nos empodera. Fato, concordo. Mas a questão que me preocupa é quanto a romantização dessa maternidade. 

Seguimos alimentando nossos super poderes na maternidade solo e não nos damos conta, de que cada vez mais, isentamos a paternidade de suas responsabilidades, que com a maturidade e independência financeira feminina, dá há muitos pais, inclusive, a isenção financeira.

Mas a verdade (nua, crua, cruel e dolorida) é que essa maternidade solo não acontece apenas com mulheres solteiras, separadas, viúvas ou divorciadas, mas também com as casadas. Estamos todas sobrecarregadas porque nos fazem acreditar, desde pequenas, que mãe é mãe. 

Estamos exaustas porque temos que dar conta de tudo e queixar-se nos coloca no horroroso universo da culpa. Nos acusamos nós mesmas de não amar nossos filhos porque às vezes nos sentimos cansadas (e às vezes pode ser o tempo todo). E essa culpa aumenta quando ouvimos de outras mulheres: "pariu, tem que criar; quem mandou ter filhos?"

É claro que essa maternidade solo nos empodera, afinal, como iremos criar os nossos filhos sem esse poder? Encontramos forças em um lugar muito particular, um lugar só nosso, um lugar de amor, mas para muitas mulheres, muitas vezes é um lugar de dor (a dor do abandono, da traição, do medo ).

Ser forte na maternidade solo é a única opção. Essa romantização com rótulos de super mãe nos coloca numa condição de não poder estar frágil ou vulnerável (nunca), e somatizar isso em dores no corpo e na alma, é inevitável: adoecemos por excessos ou faltas.

Não podemos confundir empoderamento feminino com a ideia de que temos que dar conta de tudo o tempo todo. Filhos não vêm com manual, nós não viemos. Tenho visto (e senti na pele) mulheres adoecerem por estarem vestindo esse rótulo de que somos mulheres "fodásticas" e maravilhosas. Sim, rótulo. A sociedade vêm rotulando super mulheres, e com isso seguimos como nossas mães e avós, e bisavós, fazendo tudo sozinhas, mesmo para aquelas que tem o pai dos seus filhos do lado (entende-se aqui, só do lado mesmo).

Eu não estou falando mal dos homens, dos pais, NÃO. Estou falando do poder de "isenção" que nós, mulheres damos a eles quando romantizamos a maternidade solo como algo que nos faz melhor que eles.

Minha dica? Conversem antes de casar (morar juntos, juntar as escovas de dentes, chame de como quiser), se querem ter filhos. Se querem, quantos? Se querem, como irão educar? Se querem, como irão nutrir a fé? E principalmente, qual o papel de cada um nessa relação.

A gente não fala sobre isso, a maioria não fala. Depois não sabemos como fazer. Depois vemos casais despedaçados, mulheres sobrecarregadas, exaustas, estressadas...loucas. E a paternidade confortável em sua fala: "mas é só pedir que eu te ajudo".

Eu amo a maternidade, e mesmo nos meus dias mais exaustivos, sigo amando e me empoderando disso. Mas aprendi com o tempo a criar uma rede de apoio para que eu pudesse investir no meu autocuidado para que eu possa manter esse lugar seguro e confortável pra mim. 

Não é fácil criar essa rede de apoio, porque nem sempre ela gratuita e voluntária, principalmente quando não temos a família por perto. Precisei trabalhar mais, em dobro, para poder ter mais um suporte de cuidado com os filhos, especialmente com o pequeno José. 

Enfim, meu convite é que a gente fale e compartilhe disso com mais empatia, lembrando de mulheres que não tem essa rede de apoio, que estão cansadas, exaustas e sobrecarregas. Mulheres que carregam os filhos no colo e culpa na consciência quando não conseguem dar conta de tudo.

Há tempos não comemoro o Dia das Mães, não me entendam mal. Mas afinal, que dia é esse, senão todos os dias? 

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