Filho especial


 
Ainda que meus exames indicassem uma gravidez compatível com a idade gestacional, meus sinais internos me diziam que algo não estava bem. Tudo que eu assistia ou lia, se referia a uma criança especial. É como se Deus falasse comigo. Durante os nove meses não dormi, apenas ouvia: "É preciso se preparar para a chegada do José."
Ainda lembro bem do tom da pediatra ao dar a notícia, que na verdade já sabia: "É muito provável que teu filho seja um sindrômico." Um buraco enorme se abriu debaixo dos meus pés, que foi preenchido com o meu amor, porque é impossível não amar o José.
Na hora, o que me veio à mente foi à lembrança de um adesivo que havia lido há alguns anos no vidro de um carro: "Meu filho é especial, e o seu não é?" . Tenho mais dois filhos, e são tão especiais quanto o José. Aprendi que a diferença é que o José NECESSITA DE CUIDADOS ESPECIAIS. Há tempos quero escrever sobre isso, mas como escrever sem que seja apelo emocional ou vitimação? É difícil as pessoas compreenderem isso como uma bênção ou um presente de Deus. Esquecem que a chegada de um filho traz um desassossego para a alma, mesmo ele sendo normal e perfeito, que nos faz superar obstáculos e vencer muitos medos. Imaginem um filho que precisa de um pouco mais.
Já escrevi isso em outro texto, do sentimento nobre que o José nos desperta: a generosidade. Assim como o filho mais velho nos faz buscar respostas para aos seus intermináveis questionamentos e o filho do meio nos fala doces palavras o tempo todo, cada filho contribui com algo em nossas vidas que primeiro nos desorganiza para depois nos organizar de novo.
Nunca me perguntei por que comigo, mas me pergunto todos os dias: o que Deus espera de mim? Ainda que me dedique aos seus cuidados, como mãe, sinto que Deus quer algo mais de mim, só que eu ainda não sei o que é. O José deu aquele "empurrãozinho" que faltava para me encorajar a escrever, mas tenho sempre a sensação de que posso, e devo fazer mais.
Acredito que para o irmão mais velho ele veio trazer uma enorme paz. É incrível a sintonia dos dois. Para o irmão do meio representa a capacidade que um irmão mais novo tem de ensinar a dividir atenção, e para o pai, acho que ele trouxe a "forma" que Deus tem. Eu acho. 
Não vou conseguir escrever tudo que eu quero em uma única postagem, mas precisava começar a escrever sobre isso. É uma longa e linda história de amor e superações. Nosso pequeno José vai fazer mais uma cirurgia, e  novamente vai experimentar o gosto doce da vitória, que quero compartilhar com vocês.

4 Comentários

  1. Oi Jana, ficamos no mesmo quarto no Cursilho ... li teu texto e tenha a certeza que tuas palavras é a ferramenta que Deus precisava para mostrar Seu amor. Vou rezar para que a cirurgia do José seja mais uma benção em suas vidas. Shalom! Alessandra

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi minha querida, como estão? E a volta para casa?Obrigada pelo carinho, sabemos o peso e o vlor de uma oração. Saudades, Jana

      Excluir
  2. Chorei.É só isso que posso dizer agora.
    E desejar que Deus te abençoe? Tenho certeza que é chover no molhado. Vocês já são abençoados.

    Grande beijo e abraço beeem apertado!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada Carol, estou muuuuiiiiito emocionada. Sinta-se também abraçada. Beijo

      Excluir
Postagem Anterior Próxima Postagem