Filho especial (parte II)

Ontem fui ao Hospital de Clínicas em consulta com nova especialidade. Fui atendida por uma enfermeira que tem por objetivo ajudar a "acomodar" a chegada de uma criança especial na família. Apesar deste encontro ter acontecido pela primeira vez um ano e quatro meses depois da chegada do José, e eu já ter conseguido "acomodar" muitas coisas, pude falar de um sentimento que ainda não tinha externado: "O José nasceu para mim pelo menos quatro vezes".
A primeira foi no dia 15/05/2011, no Hospital de São Jerônimo,  às 8h45min, pesando 2.920kg e medindo 43cm. Assim que tivemos o pré-diagnóstico de que o José teria uma síndrome e fiquei sozinha no quarto, olhei para uma cruz na parede do lado da minha cama e disse: "Senhor, se meu filho vai depender de aparelhos para se alimentar e respirar, se vai ter uma vida limitada, por favor, leva ele Contigo, TU vai cuidar dele melhor do que eu!"
Ainda que eu tenha noites difíceis, aquela foi a pior da minha vida. Não vi o José durante toda a noite, e sofria, pois tinha consciência do pedido ousado que fiz, além de me dar conta do tamanho da minha fraqueza e da fragilidade humana. Contei isso para uma mãe no Hospital, e ela me disse que se sentia aliviada de ouvir, porque tirava um grande peso das costas por ter pedido a mesma coisa. Confesso, que ao ouvi-la, também fiquei aliviada.
Assim que amanheceu pedi que meu marido me ajudasse a levantar. Precisava tomar um banho, um café  e ver o meu filho. Quando a enfemeira chegou no quarto e me viu de pé, ficou surpresa com a minha disposição. Logo após me recompor, fui até o José. Quando cheguei na incubadora e vi ele ali, tão pequeno, olhei para o alto e disse: "Senhor, deixe ele comigo de qualquer jeito, com sonda, aparelho, oxigênio...como for." É como se Deus tivesse, naquele momento, dito assim: "Mandei ele para ti, pois sei que tu vai cuidar dele tão bem quanto EU." Então o José nascia pela segunda vez.
O José foi removido para o Hospital de Clínicas de Porto Alegre, acompanhado do meu marido. Fui para casa ver os meus outros dois filhos.
Quando eu estava grávida do Victor, nosso filho mais velho, cantava para ele a música "O tijolinho", porque era assim que o via: "o tijolinho que faltava na nossa construção", essa construção chamada família. Para o João, nosso segundo filho, cantávamos "Fico assim sem você", pois estávamos loucos para vê-lo chegar. E para o José, por mais que eu me esforçasse, não conseguia escolher uma canção para ele.
Na madrugada do terceiro dia, liguei para o meu marido chorando que precisava ver o José, estava com muito leite e entendia que aquele era um sinal de que ele esperava por mim.
A medida que eu ia me aproximando do Hospital, meu coração batia mais forte. Assim que entrei no décimo primeiro andar, na UTI Neonatal, e vi o José, de novo na incubadora, comecei a cantar: "Eu tenho tanto prá lhe falar, mas com palavras não sei dizer, como é grande o meu amor por você". E o José nascia pela terceira vez.
Talvez agora vocês possam pensar: qual foi a quarta vez? Da quarta vez em diante, posso relatar: o primeiro dia depois da primeira cirurgia, os exames, os procedimentos, as idas e vindas das consultas de rotina, as fisioterapias...e especialmente, cada novo dia.

2 Comentários

  1. como tia passei por emoções bem parecidas em relação ao José, e agora vendo-o fazer gestos de "um aninho"; querendo esfregar os dedinhos pedindo "um dinheirinho pro papai" penso sempre que bom tê-lo com a gente hoje, e o quanto eu o amo. Tia Vanea.

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  2. Ai tia Vânea, é impossível não amar o José!!! rsrsrsrsrsrs
    Beijos

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