O não perfeito

Por um bom tempo a regra era: "não crie expectativas". Mas vamos nos dando conta de que expectativas fazem parte do contexto, dos sonhos, dos projetos, e especialmente das relações. Então o certo seria apenas reduzir as expectativas, porque, às vezes nossas expectativas estão apenas desalinhadas com a nossa realidade.
Teve um tempo em que eu acreditava que cada um dá aquilo que tem. Acho que era uma forma gentil, comigo mesma, de justificar as minhas expectativas não correspondidas. Hoje, mais madura e consciente das minhas relações, compreendi, que cada um dá aquilo que quer, o que lhe convêm.
Esperar o que o outro não quer nos dar, seja atenção, amor, apoio, seja o que for, é acionar o botão vermelho da comunicação nas relações.
Meu querido amigo Junior Machado, em uma de suas palestras, comentou que a comunicação traz sempre três elementos: omissão, distorção e generalização, e isso me remeteu a ideia das expectativas que criamos.
Quando, por exemplo, somos omissos nas relações, quando não deixamos claro o que realmente queremos, quando não dizemos como realmente nos sentimos, quando omitimos detalhes. Quando distorcemos a comunicação nas relações. Quando carregamos apenas as nossas crenças, os nossos significados e a nossa verdade absoluta. Ou ainda quando generalizamos, e diante de uma expectativa não correspondida, julgamos com um clássico: "tu nunca pode". Fazendo a leitura mental do outro, sobre uma experiência interna do outro.
Mas a questão é: e quando não somos omissos, nem distorcemos ou generalizamos e ainda assim o outro não "te atende"? Então, OU, essa relação não cabe mais no teu universo, no teu mundo, na tua vida, OU, tu vive essa relação sem esperar nada dela.
E foi nessas duas opções que se formaram as pessoas fortes. As mães e pais solteiros, os que tiveram que aprender a se virar sozinhos, aqueles que tiveram que criar suas estruturas para se manter em pé. Ouvir um não, às vezes para algo bem simples, que vai te fazer bem, e que tu tem certeza que o outro poderia fazer, mas não quis; dói. Mas te ensina! Te ensina um monte de coisas!
Te ensina mais sobre ti mesmo, sobre as tuas carências e fragilidades, sobre a tua força e superação. Te ensina sobre a outra pessoa, sobre o que é importante para ela em relação a ti. Te ensina a escolher que lugar essa pessoa ocupa na tua vida e tu na vida dela. E também te ensina a dizer não. E "tá tudo bem".
E assim vamos vivendo situações que nos provocam o tempo inteiro, que nos transformam. Experiências que ampliam nossos resultados de acolhida e entrega, de amor e tolerância com o não perfeito.















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